segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lembrando-te

Lembras-te daquele momento de coincidências, de olhares cúmplices, de brilho concordante? Das longas conversas, sobre tudo que era nada? Da tarde sentada a falar, de mim, de ti? Lembras-te do décimo nono dia? Do precipitado que foi esse instante? Confundindo aquele que sentindo se renegava, rompendo impulsivamente os limites do razoável.

Lembras-te? Da última noite em que fui esse eu? Daquele beijo, desejado, de amor enganado, negado.

Foi o começo da decadência, findavam-se as mensagens sentidas, os afáveis reencontros, o carinho criado... Agora só o racional sobressaia em ti, foste sufocando o teu sentir pelo receio... impensável supremacia d’outrém!

E o desconhecimento total da causa feriu, levou ao desespero...

Ambos sentíamos o mesmo pulsar mas nunca te deixaste levar por esse desejo, por esse sonho, o teu pensar fizera-te refém, o meu fez-me diferente... Eles acabaram com tudo.

Hoje ainda penso em ti. A razão de teres existido, que lição tomar de tudo, da partida, dos acender de esperança... Porque, apesar de te renegar ao vento, sinto, no relógio, cada hora de saudade.

Lembras-te de como era? Lembras-te do sentir? Lembras-te do eu, do tu, a toda a hora? Do carinho? Do interesse mútuo? Da preocupação? Do encaixe que permitíamos? Da junção de dois mundos sem barreiras?

Eu lembro, e, assim, te vou amando. Sei que o futuro é incerto, mas é em ti que o vejo melhor. Desejo-te! Amo-te! E sabes que o sinto.

E é esse sentir que me faz acreditar que virás por um abraço mais próximo que o último...

E é esta calma, paz, sossego, este momento solitário que propicia este reflectir, este lembrar, hábito distante de vontades primaveris em tempos de Inverno, resumido à cicunstância de lençóis, entre o seu afagar até ao estado inconsciente... intermitente realidade que me acalma, que refresca, enquanto o corpo, em ninho, agora morno, se esquece... rol de ideias, turbilhão de emoções calmas:

Peguei ao de leve na memória,
Lembrando o que de bom ficou
Tirando o que se manifestou.
Não o permitiu a nossa história!

Procurei, no entanto, perceber
os motivos da minha frustação,
frases que me atiraste como razão
Não o deixou o meu entender!

Olho em volta, procurando-te...
Não te alcanço, nem em sonho,
deixaste-me ao abandono,
Por meio de discussão ignorante.

As que tinhamos entre falas,
agora nem isso fazermos,
com curiosidade, sem enredos...
São estranhas as tuas palavras!

Só queria perceber a palavra, descobri-la contigo, a pouco e pouco, como doce beijo soltado e que a memória saboreia...
Mas agora... hoje! Hoje o teu mundo não é o meu, quem sabe amanhã...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Verdes Espinhos


Verdes Espinhos,
Me contentam:
A dor da alma,
A dor do ser..

Me formam:
Aberração calma,
Aberração de acontecer...

De ter o que falta,
Perseguir o fugido,
Cantá-la mais alta...
De que capaz não sou!!!

De esconder mais o surgido,
De tapar o revelado....
Não, não consigo mais!!!

Que vibre o mundo!,
Sabendo que formais desejos possuo
No mais profundo segundo.

(algures em 2005)


sábado, 15 de março de 2008

Volta breve

Hoje, ela disse-lhe que partia, em breve.
Apesar de não ser a primeira vez que anunciava tal acontecimento,
tocou no fundo, pior que qualquer outra dor...
Ela notara, ou talvez estivesse, apenas, a brincar...
“Pelo menos estamos bem! “ – reconfortou. Mas soou pior...
Apesar de tudo, do que vivemos juntos e do sonho que vai ficando perdido,
sente um vazio de algo que não lhe pertence...
Mas mesmo assim que lhe faz falta.
Vai doendo, e com o consumar da madrugada, prolonga-se...
Havia-lhe dito, como que adivinhando o que viria a sentir: “ Virei cá algumasvezes...”
Não tinha reparado mas só a última semana tinha sido verdadeira para ele...
Parece que com a partida eminente tudo deixou de ter sentido, um propósito...
Fora tudo tão intenso, tão voraz...
Só nos últimos tempos ele parara e pensara nos erros, na história...
De nada vale... Só saudade do que ainda é presente...
Saudades d’ ela que como veio se vai, feita estrela cadente...
Não grita, não exterioriza, remoi apenas e escreve, abafando a mágoa....
Pode ser sono, pode ser imaginação, pode ser verdade que tenta rejeitar...
Não quer ficar só num mundo que ainda não é o seu...
Tudo o resto parece banal, entediante, quando lembrados os momentos que ficaram...
Um nada vazio e a companhia da noite, em breve do dia...
O sono vai pesando e os olhos fechando....
O pensamento vem e vai como oscilação da dormência...
E antes de tudo o mais que antecede o amanhã:
“ Volta breve...” – pede, silenciosamente, para si....

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tarde precipitada

Tarde precipitada, beijo infeliz, fuga apressada...
Esquecendo o perfume, naquele instante, ligado como pertence:
fragância izímia... toque de Midas...
Momentos intemporais, sonho acordado...
Distância presente, futuro inacabado.
Paixão fortífera, pensamentos perversos, inalcansáveis, intocáveis...
Estes, onde sempre te encontrei e permaneces... onde te deixei.
Dou voltas em mim, procurando a razão, essa que não encontro, para me abandonar nessa conquista intensa de probabilidade infinitézimal, possível como qualquer outro anseio desafortunado.
Vida perdida na procura, encontro, despedida e desejo...
Esquecimento real não suportado, tempo lembrado ao instante...
Atracção tornada amor irreal, frustração constante...
Fazes parte do passado e queria-te, no presente, igual ao futuro imaginado...
Nada me resta senão essas lembranças, lembranças de ti nesse futuro de saudade...

(26-01-2007)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Perdido

Quando nos perdemos na imensidão do ser,
que não encontramos o rosto de todos os dias...
Quando as palavras saiem noutro tom,
que não soam a amigas...
E gesticulamos em direcções opostas,
"Insensível o toque das tuas mãos, áspero o teu abraço",
dizem aqueles que sempre ansiaram por ele,
suave, caloroso, reconfortante...

Quando nos perdemos na imensidão do ser,
que nem quem somos encontramos...
No espelho iguais, na alma estranhos...

Quando nos perdemos na imensidão do ser,
que não nos sentimos ou sequer fingimos,
que os outros não vêem não existir,
que nos esquecemos como ser...

Quando nos perdemos na imensidão do ser,
intensamente somos a vontade do que sentimos....

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Lance a lance

Lance a lance, consumia-lhe, uma vez mais, o espírito, aquele que surgira e, era, até certo ponto, divertido. Até este ponto, o ponto em que ela contornava tudo o que parecia linearmente acordado. Revoltava-o, profundamente, aquela capacidade de manter uma postura sem emoção até ao momento decisivo. Ele apercebera-se da inevitabilidade do jogo: iria perder sem grande demora... Não era a derrota que o irritava, mas a incapacidade de apreender qualquer sentimento de felicidade à medida que as jogadas se faziam notar no tabuleiro. Fazia-o sentir-se inseguro. Sentia que ela conseguia falsear o sentimento ou, pelo menos, neutralizá-lo de tal forma que o levava a duvidar, ridiculamente, digámos talvez, dos sentimentos dela.

... ( continua)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Vazio

Neste vazio profundo, uma vez mais...
A sede de deixá-lo empurrou-te mais fundo!
Já não sabes evitar, chama-lhe destino, chama-lhe sorte...
Verdadeiramente é a tua realidade, tem sido a tua realidade!
Não te desculpes, a ti mesmo, afinal a culpa não é tua!
É dos outros! Sempre foi! Até o foi a tua criação...
E viveste até agora sem culpa de nada.
Sentes-te inocente, nada do que tens ou és é culpa tua.
E agora que tentas ter culpas na vida, não consegues...
Porque não sabes como fazê-lo...
Porque ao primeiro toque és empurrado para fora do tabuleiro,
Rapidamente, tal mate louco.

0-1 uma vez mais.

0-1 já sem conta, e nem de brancas jogaste!